Quando uma criança chega ao meu consultório com 2 anos e já tem manchas iniciais ou cavidades de cárie, eu penso “poxa, que pena que essa mãe não passou comigo antes, enquanto estava grávida, ou antes do primeiro aninho do bebê, para que eu pudesse agir antes da doença se instalar… essas cáries não existiriam, e essa criança não precisaria de tratamento.”

É porque hoje se sabe que a palavra de ordem da Odontologia é a prevenção. Queremos evitar a doença e não tratar suas sequelas. E também sabemos que para evitar a cárie temos que começar cedo! A cárie da infância se instala nos primeiros anos de vida, quando a dieta familiar começa a ser passada para o bebê.

 

Mas bebê tem cárie?

Tem sim! E as cáries nos bebês são muito rápidas, agressivas e destrutivas. “E dente de leite dói”. Dói sim e muito! Inflama e infecciona igualzinho a dente de adulto. “Mas se tiver cárie no dente de leite não tem problema, vai cair mesmo, né? ”. Então, não é bem assim… o dente de leite tem que ser tratado e preservado na boca por vários motivos:

1. Para que a criança não sinta dor e mal-estar

2. Consiga mastigar e se alimentar bem

3. Articule os fonemas e fale corretamente

4. Para manter o espaço dos dentes permanentes que ainda virão

5. Para que a face e os arcos dentários cresçam adequadamente

6. Para a própria autoimagem da criança que, como nós, gosta de se achar bonita e de ser elogiada

 

Causas da cárie nos bebês

A maior causa é o consumo fracionado de açúcar. Isso se dá, geralmente, através de várias mamadeiras espalhadas durante o dia ou à noite, por isso algumas pessoas a chamam de cárie de mamadeira. Quando engrossamos ou adoçamos as mamadeiras com produtos à base de farináceos ou achocolatados, aumentamos ainda mais a chance de desenvolvermos cárie.

As bactérias da boca não precisam de muita quantidade de açúcar, mas da alta frequência no consumo. Vou dar um exemplo de uma dieta geradora de cárie: ao acordar, mamadeira, mais tarde um pãozinho, um golinho de suco, uma bolachinha ali, um pedacinho de bolo, o almoço, mais lanchinhos à tarde, jantar, mamadeira antes de dormir e às vezes de madrugada. Esse padrão de alimentação repetido por muito tempo pode causar a cárie, porque as bactérias da boca (que adoram açúcar e farinha) estão sempre sendo alimentadas. Consumido por dias e noites, mesmo em pequena quantidade, o açúcar tem um efeito devastador.

Ou seja, as mamadeiras não são as únicas vilãs. Todo tipo de açúcar inserido na alimentação pode levar à instalação da cárie, principalmente quando em alimentos muito aderentes.

 

O primeiro sinal

A cárie aparece inicialmente como pequenas manchas brancas no dente, geralmente próximas à gengiva. Essas manchas são a consequência da perda mineral que forma micro cavidades sob o esmalte. Nesta fase, ainda não há nenhum buraquinho no dente. Mas chega uma hora que a perda de estrutura é tão grande, que essas micro cavidades se unem e o esmalte do dente desmorona. Aí sim aparece uma cavidade – e é só nesta hora que os pais percebem que algo está errado: “Eu vi um pretinho no dente do meu filho. ”

Prevenção já!

Tenho uma boa notícia! Os problemas de saúde na boca são fáceis de ser evitados:

  • A principal causa da cárie é a ingestão frequente de açúcar fracionada várias vezes ao longo do dia/noite, certo? Então, ofereça ao seu bebê uma alimentação saudável com a menor quantidade de açúcar possível.
  • Na verdade, nem se deve dar açúcar para bebês menores de 2 anos, em função da formação do paladar e do próprio metabolismo infantil.
  • A amamentação no seio é preferível à mamadeira, por vários motivos, mas depois que o bebê tiver dentes, é mais seguro que as mamadas tenham horários estipulados.
  • Se for oferecer mamadeira, use só a água e a fórmula do leite, sem espessantes ou “engordantes”.
  • Além das mamadeiras em excesso, cuidado com os açúcares típicos: doces, balas, chicletes, pirulitos, chocolates, bolachas recheadas, mas também com os camuflados como os sucos artificiais, refrigerantes, salgadinhos, cereais matinais, pãezinhos, bolinhos.
  • Determine uma rotina com horários fixos para a alimentação. Evite que o bebê passe o dia beliscando.A higiene da boca deve ser feita a partir da chegada dos primeiros dentinhos do bebê, com escova infantil. Não há necessidade de limpeza com gazes ou fraldinhas antes dos dentes nascerem.
  • Use sempre pasta com flúor (cerca de 1000ppm) nas seguintes quantidades:

De 0 a 3 anos: o equivalente a um grão de arroz cru

De 3 a 6 anos: uma gotinha, um grão de milho

Maiores de 6 anos: grão de ervilha

Essas doses podem ser adequadas pelo seu dentista, de acordo com a necessidade de cada um

E lembre-se: a visita ao dentista deve ocorrer o mais cedo possível, assim que surgirem os primeiros dentinhos de leite, ou até mesmo durante a gravidez, para começarmos o protocolo de prevenção.

O sorriso bonito no adulto começa em uma boca bem cuidada no bebê!

Aquele abraço,

Dra. Sandra

 

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